terça-feira, 30 de maio de 2017

Os pais da tecnologia


Há dias estavamos a almoçar, nós os três num restaurante, e na mesa ao lado senta-se um pai com a sua filha. Impecávelmente vestidos, e a criança estava digna de várias fotos. Sentaram-se os dois na mesa. A miúda ficou de costas para mim mas o pai mesmo de frente e no meu campo visual, inevitavelmente eu conseguia ver o senhor e o que estava a fazer durante o almoço. A menina devia ter uns 4/5 anos, não tinha mais, garanto. 
Não sei a história deles, não sei se almoçavam só os dois porque a mãe estaria trabalhar, se o casal estaria separado e o pai levou a criança almoçar. Não faço a minima ideia, mas sei vos dizer que ele passou o almoço todo, e quando digo todo, é no verdadeiro significado da palavra, agarrado ao telemóvel. Umas vezes escrevia, outras somente consultava. A criança, super educada, estava ali em frente a ele a comer entretida o seu pão com manteiga e afins. Se ele trocou 5 palavras com a criança, foi o máximo. 
Sinceramente, achei aquele cenário do mais triste. Um pai que leva a filha para almoçar e no fundo ela passou o almoço sozinha. Ele agarrado ao seu mundo virtual, seja em lazer ou em trabalho foi um cenário que me chocou, sinceramente! 
Eu adoro tecnologias, gosto deste mundo virtual mas quando é para estar com ela, tudo tem de ficar de parte... eles precisam de nós a falar com eles, a brincar com eles e não um pai ou mãe que passa o tempo agarrado ao telemóvel. Entre aquele pai e um manequim de loja ali em frente à miúda, a diferença seria pouca naquela situação. 

Claro que nem todos temos jeito para brincar como crianças mas é importante saber se colocar no mundo deles. Lá em casa eu brinco com os bonecos, com as casinhas, trabalhos manuais. Ele, não tem jeitinho nenhum para isso, mas brinca ao balão, às escondidinhas e às cartas. Ela gosta de Ipad? Adora! Mas precisamos de impor limites. Há muita vida fora de um écran. 
Quando saímos ela leva uma mochila ou carteira com brinquedos e bloco para pintar. Não tem irmãos mas tem mãe e pai que sabem que ela tem de brincar e adora brincar. O tempo é dela. 
Existe tentação de ver como anda o mundo virtual? Claro que sim! Existem emails de trabalho para responder? Claro que sim! Mas o tempo que estamos com eles, tem de ser deles e não de um telemóvel. 
Estamos num mundo em que os pais estão nas suas vidas virtuais, seja lazer ou trabalho, e os filhos crescem agarrados igualmente aos seus ecrans. Jovens que passam horas a jogar jogos com pessoal de todo o mundo mas são incapazes de manter um diálogo fora desse mundo.
Assusta-me este mundo, que se passa atrás de um ecran de um qualquer dispositivo  tecnologico e nos afasta demasiadamente das pessoas. 
Faço o que devia? Nem sempre mas juro que tento melhorar cada dia.