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Já estava para fazer este post há um tempo mas tenho sempre algumas reservas em partilhar cenas da vidas, não sou de o fazer, mas por vezes tenho necessidade de partilhar o que vai cá dentro.
Assim de repente, esta pandemia apanhou-nos a todos um bocadinho (para não dizer muito) desprevenidos, ninguém achava que uma coisa destas nos ia acontecer e da maneira que se passou...
Fomos forçados pelas circunstâncias a enfrentar uma ameaça que não se vê, que passa por nós e pode ou não nos afectar mas sabemos que ela anda aí.
Nunca achamos que nos acontece, achamos sempre que é aos outros, esta mania egoísta de olhar para o nosso umbigo primeiro.
Para uns esta quarentena foram umas férias, infelizmente para outros foram o inferno. Muitos perderam familiares, amigos... outros, empregos e uma maneira de subsistir. Não gosto de me fechar no meu mundo e fingir que nada se passa à minha volta. Não consigo ser assim, e se calhar sofro mais mas ser indiferente ou alienada do mundo nunca fez parte de mim. Preocupo-me realmente com as pessoas, infelizmente nem sempre reciprocamente 🤷♀️ mas a minha consciência manda, e não consigo ser diferente.
Desde que se começou a falar deste vírus, sempre o levei muito a sério, percebemos que não seria nada irrelevante. E lembro-me perfeitamente de falar disto e me terem dito que eu sou uma fatalista, que acho sempre que as coisas são piores. De me dizerem isto em 15 dias vai embora (ainda só ouvíamos falar somente que estava a norte de Itália), e eu ficar espantada com alienação das pessoas.
Como a minha família tem muitas pessoas do grupo de risco, sempre levei isto bastante a sério, desde o princípio. Mas logicamente que não basta termos essa consciência, se os outros não a tiverem neste cenário especifico não conseguimos fazer nada sozinhos.
Em finais de Março, o meu pai ficou infectado. Uma montanha de sentimentos baralhados, pois além de ser de um grupo de risco, desconhecíamos de todo o efeito do vírus. Bem, sabíamos os sintomas mas não como ele ia reagir. Além, de ter de assegurar que mais ninguém seria contaminado.
Foram 2 longos meses de uma logística completamente louca, medidas de higiene extremas e um pai fechado a 7 chaves no quarto. Um isolamento que além de evitar que contaminasse alguém, também o afectou muito psicologicamente. Sofreu bastante. É difícil para uma pessoa activa de um momento para o outro ficar privado de tudo e de todos. E ainda assim teve muita sorte, ele sabe disso! Não teve complicações mas posso vos garantir que ter esta coisa, é o inferno. Fisicamente e psicologicamente. O isolamento, o afastamento das pessoas e muitas vezes a própria reacção das pessoas a um infectado foi horrível. Tivemos episódios muito tristes durante estes dois meses.
Mas como em tudo na vida, que é sempre assim que encaro, até estes momentos servem para nos ensinar algo. Para separar o trigo do joio.
Por incrível que pareça ainda me consigo surpreender com as pessoas, ainda consigo pensar que há pessoas que só estão ao nosso lado quando tudo vai bem. Que é nestes momentos que fazemos mais uma triagem de quem realmente gosta de nós, se preocupa connosco.
Sou rápida na aprendizagem, não perco muito tempo, e a verdade é quando isto acontece a culpa não deixa de ser nossa, que não vimos suficientemente longe. Não faz mal, mais vale tarde que nunca...adiante!
Teste positivo, após teste positivo foram semanas vividas uma de cada vez.
Foi difícil mas sobrevivemos a tudo isto.
E talvez porque nem sempre falam na parte menos boa deste vírus, do que as pessoas sentem, achei importante partilhar este meu relato.
Não quero que isto fique enorme mas o essencial está aqui.
Sei que infelizmente há realidades bem mais difíceis, há pessoas que não sobreviveram para contar mas eu gostava de vos dizer, não relaxem!
Isto ainda não passou, usem máscara, não achem que já tudo passou, mantenham a distância de segurança. Protejam-se e acima de tudo protejam os vossos.
Não acontece só aos outros.